quinta-feira, 4 de outubro de 2012

DE OLHO NO VESTIBULAR DA URCA!


OS BRUZUNDANGAS



AUTOR
LIMA BARRETO


Resenha
Sob o nome de Bruzundanga - um país ficcional, pode-se identificar facilmente o Brasil, que na época passava por mudanças políticas aparentemente radicais, mas que em nada melhoraram a condição de vida das classes menos privilegiadas. Um país repleto de elites incultas dominando um povo. Vemos: racismo (javaneses lá, mulatos como o autor cá), pobreza, obsessão por títulos (os de nobreza e os de doutor, mesmo quando seus possuidores não são nobres e pouco letrados) e riquezas; uma literatura de enfeite, sem sentido e desatualizada.

O livro é um diário de viagem
de um brasileiro que morou tempos na Bruzundanga, conheceu sua literatura, a escola samoieda (falsa, monótona e afastada da cultura, com autores fúteis e aconchavados com a classe dominante); sua economia confusa que exauri a riqueza do país, sendo dominada pelos cafeeiros da província de Kaphet.
Observamos crítica à legislação (a Constituição, baseada na de um país visitado por Gulliver, tem uma lei que diz: se a lei não for conveniente à situação, não é válida); à política (os presidentes, chamados Manda-chuvas, assim como aos ministros, os heróis e os deputados, são estúpidos e vazios); o processo democrático (tão corrupto quanto na República Velha); a ciência, o restante da conveniente à situação, não é válida); assim como aos ministros, os heróis e os deputados, são estúpidos e vazios); o processo democrático (tão corrupto quanto na República Velha); a ciência, o restante da cultura (quase nula, por vezes perto do negativo); o exército e a política internacional.

Repleto de personagens caricatos da vida política da época -Venceslau Brás e o Barão de Rio Branco - o livro é uma crítica ferina à sociedade brasileira, sua literatura sorriso da sociedade e sua organização político-econômica.


Estilo de Época - Pré-Modernismo

Este livro se enquadra no que Lima Barreto qualificou de "literatura militante", cuja missão era "fazer comunicar umas almas com as outras reforçando deste modo a solidariedade humana, tornando os homens mais capazes para a conquista do planeta e se entenderem melhor, no único intuito de sua felicidade".
Uma coletânea de crônicas originalmente publicadas no jornal A.B.C., durante o ano de 1917. Em livro, só foi publicada em 1923, quando o escritor já havia morrido. São textos satíricos retratando o Brasil do início do século XX. São 22 capítulos além de outras histórias dos bruzundangas.


INTERTEXTUALIDADE

Satiriza uma fictícia nação onde o escritor teria residido. Bruzundanga? Palavreado confuso, mixórdia, trapalhada – diz o dicionário.
Seus capítulos enfocam, entre outros temas, a diplomacia, a Constituição, transações e propinas, os políticos e eleições em Bruzundanga. Critica os privilégios da nobreza, o poder das oligarquias rurais, a futilidade das sanguessugas do erário, desigualdades, saúde e educação tratadas com desdém, enfim, mazelas parecidas às de um país real.
O uso do caixa 2, a chamada omissão de receitas, o valor declarado é menor que o real... Mensalão (neologismo) ou esquema de compra de votos de parlamentares.
Em Espanhol, foi traduzida como "mensalón" e em Inglês como "big monthly allowance" (grande pagamento mensal) e "vote-buying" (compra de votos).
Em Bruzundanga ocorre o nepotismo desenfreado, há privilégios e favorecimentos aos políticos. A saúde e a educação são tratadas em segundo plano, num conjunto de mazelas bem atuais, se comparados ao momento por que passa o país.
Diz: não há homem influente que não tenha parentes e amigos ocupando cargos de Estado; não há doutores da lei e deputados que não se considerem no direito de deixar aos filhos, netos, sobrinhos e primos gordas pensões pagas pelo Tesouro da República.
Em 2005... o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, afirmou que os "títulos universitários" que seus familiares possuem justificam suas contratações, sem concurso, para cargos comissionados na Câmara e no Executivo federal. Entre os oito, está o filho José Maurício Cavalcanti, na Câmara desde pelo menos 1997. Ele vai assumir agora, por indicação do pai, a superintendência do Ministério da Agricultura de Pernambuco.
Os bruzudanguenses são os habitantes de um país onde ocorrem inúmeros desajustes e vergonhosa desorganização em todos os setores da administração pública. Propina – dinheiro obtido ou favorecido de forma ilícita, como suborno em atos de corrupção.
Esquemas de corrupção, “clube da propina” em estatais... foi/é manchete de jornais e revistas.

Ao presidente de Bruzundanga, que deve ser um deslumbrado e completo idiota, chamam-no “Manda-chuva”; à justiça, “Chicana”.
No prefácio, a ARTE DE FURTAR: “Como os maiores ladrões são os que têm por ofício livrar-nos dos outros ladrões.”Qualquer coincidência ou semelhança com o Brasil é meramente intencional.
Por isso, afirmo que nesta obra, Lima Barreto trata da política, do ensino, da religião, das artes e de vários outros aspectos da Bruzundanga.
Quantos outros textos jornalísticos recentes intertextualizam com esta obra?

VISÃO CRÍTICA
Mulato, pobre, revoltado, Lima Barreto utilizou seu enorme talento para combater as oligarquias, o racismo e as desigualdades sociais.
 “A pobreza e a situação social suburbana de Lima Barreto aguçaram sua visão e senso crítico. Sua obra é uma crônica autêntica dos subúrbios cariocas e de sua população, retratando, de um lado, a população pobre e oprimida desse subúrbio e, de outro, o mundo vazio de uma burguesia medíocre; de políticos poderosos e incompetentes e de militares opressores. Parece refletir, muitas vezes, a própria experiência do autor, principalmente a dos negros e mestiços, que sofriam na pele o preconceito racial.”
Esse espírito crítico se revela também no campo linguístico. Sua obra, em déficit com a pureza vernácula dos escritores da época - Rui Barbosa e Olavo Bilac - e juntando linguagem culta e cotidiana, reflete as contradições culturais daquele período. Em um estilo leve e fluente, o autor utiliza intencionalmente expressões da língua falada da época. Próximo do discurso jornalístico, esse estilo, apesar de muito criticado, acabou sendo usado por muitos autores modernistas, após 1922.”

Se você quer aprender  mais, venha discutir conosco na HORA LITERÁRIA.



Você conhece Lima Barreto? Analisaremos em breve "DIZEM QUE OS CÃES VEEM COISAS". 

AGUARDEM!